quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Esquecer...

Esquecer alguém é tão difícil... mas como é triste deixar de gostar...
Fica uma espécie de falta de assunto... você cumpre a sua rotina, faz tudo que deveria fazer, mas sente que te falta algo...
Talvez aquela dorzinha latejante que te fazia consciente do teu coração pulsando o dia inteiro... E você tinha um objetivo grandioso: fazê-la cessar...
E um dia você nem percebe que ela se foi...
O desconforto é outro: parece que não sinto nada!
Meu corpo inóspito, sem habitação...
Tenho minha alma larga, mas ainda sobra este espaço pra um amor eterno que ele ocupava e que não existe mais...
E eu tenho todo esse potencial amoroso entre as mãos e ninguém pra me ajudar a desenvolvê-lo.
E conviver com esse "não gosto mais" vai ficando perigoso... Não há como recolher o que foi deliberadamente esvaziado de significado.
Então é isso: Nunca mais vou sonhar com uma reconciliação, um reencontro ao som de violinos... Nunca mais vou imaginar que nos esbarraremos por ai, eu no meu melhor vestido... e um ar sereno, ele todo lindo com os olhos salivando de vontade de mim...
(...) Mas o que eu faço com esse "não gosto mais"?
(...) Esquecer alguém é tão difícil, mas deixar de gostar traz um vazio absoluto... Porque até que outra coisa tão real e surpreendente aconteça, parece demorado e dá preguiça demais...
E quando estiver carente e me fizer deslumbrante e disponível terei que esperar que alguém interessante apareça com o mesmo blábláblá dos primeiros instantes...
Ele já sabia tanto quando eu nem precisava dizer... era tão delicioso a gente só se olhar, cúmplices, e seguir por aí de mãos dadas (...) Era tão maravilhoso saber que meu projeto de vida era acordar ao seu lado todos os dias... Era tão excitante ficar atualizando a caixa de e-mails esperando o dele... o telefonema no meio da tarde, as mensagens... que me faziam ouvir sua voz ao meu ouvido...
Quer dizer que isso tudo ficou no passado?
Que meu corpo está completamente destituído de afeto por ele?
Foi pra isso que fiz tanto esforço?
(...) A nossa relação me ocupava plenamente... e agora, nas horas vagas e sem ocupação emocional, eu sigo mais vaga que as horas todas... (Nem a minha autosuficiência tem bastado).
Esquecer alguém é muito difícil, mas não lembrar pode ser ainda mais doloroso...


[Marla de Queiroz]

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