sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida.

Se eu tivesse que escolher uma palavra -
apenas uma - para ser item obrigatório no vocabulário da mulher de
hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar. Depois
de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da hora de
aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos dos outros e de nós
próprias, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos
para o espelho. Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para
chegarmos à tão falada qualidade de vida que queremos - e merecemos
- ter.

Mas há outras palavras que não podem faltar no kit
existencial da mulher moderna. Amizade, por exemplo. Acostumadas a
concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas,
acabamos deixando as amigas em segundo plano. E nada, mas nada mesmo, faz
tão bem para uma mulher quanto a convivência com as amigas. Ir ao cinema
com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair sem ter hora para
voltar, compartilhar uma caipivodca de morango e repetir as histórias que
já nos contamos mil vezes - isso, sim, faz bem para a pele. Para a
alma, então, nem se fala. Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou o
namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez
(desligue o celular, se for preciso) e desfrute os prazeres que só uma
boa amizade consegue proporcionar.

E, já que falamos em desligar o celular, incorpore
ao seu vocabulário duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano
feminino: pausa e silêncio. Aprenda a parar, nem que seja por cinco
minutos, três vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia
- não importa - e a ficar em silêncio. Essas
pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes de uma decisão
importante, entender melhor os próprios sentimentos, reencontrar a
serenidade e o equilíbrio quando é preciso.

Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano,
para o verbo rir. Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão
de uma mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser
banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na
locadora, preste atenção na conversa de duas crianças, marque um encontro
com aquela amiga engraçada - faça qualquer coisa, mas ria. O riso
nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a
vida.

Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam
em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias. Deixe para
discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do
endocrinologista. Nas mesas de restaurantes, nem pensar. Se for para
ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e olhando para a
sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e inveja, melhor ficar em
casa e desfrutar sua salada de alface e seu chá verde sozinha.
Uma sugestão? Tente trocar a obsessão pela dieta por
outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos atos 24 horas por dia:
gentileza. Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber
se comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir.

Resgate aquele velho exercício que anda esquecido: aprenda a se colocar
no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no
trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa, no
supermercado, na academia.
E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos
que deveriam ser indissociáveis da vida: sonhar e recomeçar. Sonhe com
aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que
você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem
que um dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que está beijando o
Richard Gere... sonhar é quase fazer acontecer. Sonhe até que aconteça. E
recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos
relacionamentos familiares. A vida nos dá um espaço de manobra: use-o
para reinventar a si mesma.

E, por último (agora, sim, encerrando), risque do
seu Aurélio a palavra perfeição. O dicionário das mulheres interessantes
inclui fragilidades, inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma
para ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que
sabe tudo, a esposa nota mil. Acima de tudo, elimine de sua vida o
desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que
não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni. Mulheres reais são
mulheres imperfeitas. E mulheres que se aceitam como imperfeitas são
mulheres livres. Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se elimina
o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a
tão sonhada felicidade fica muito mais possível.

[  Leila Ferreira  ]

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